Equipe Farmacologia Informa
A Vitamina D possui papel fundamental no metabolismo do cálcio e do fósforo, e difere de outras vitaminas, pois sua concentração no sangue dependente não somente da alimentação, mas principalmente da sua produção iniciada na pele (1). A pele produz o colecalciferol (vitamina D3) após uma exposição de 15-30 minutos aos raios UV-B solares, sendo que indivíduos com pele mais escura necessitam de uma exposição seis vezes maior (2). Posteriormente, a Vitamina D3 vai dar origem a sua forma ativa, o calcitriol (3), que se liga no seu receptor intracelular (VDR) e promove suas funções metabólicas. Vale citar que em idosos a produção de vitamina D decai, sendo essencial a reposição, seja por alimentos ricos na vitamina, como óleo de fígado de bacalhau, sardinha e fígado, ou por suplementação (4,5). No entanto, esta suplementação tem que ser individualizada visto que concentrações plasmáticas elevadas de vitamina D são tóxicas, levando ao aumento do cálcio, que pode ocasionar vômito, desidratação e perda de apetite (4). A deficiência de vitamina D é problema de saúde comum e ocorre em escala mundial. Estudos apontam carência de até 90% de acordo com a região geográfica estudada, incluindo no Brasil (6). Fatores como idade avançada, tom de pele mais escura, uso de roupas fechadas e menor exposição ao sol em países de clima frio estão associados com a hipovitaminose D (1).
A vitamina D apresenta diversos efeitos no organismo. Dentre eles destacamos sua importância no sistema imunológico (1), no qual todas as células apresentam o VDR e várias células possuem a capacidade de converter o precursor calcidiol na forma ativa calcitriol (7,8). A ligação do calcitriol no VDR promove a regulação da produção de citocinas nessas células (9), além de aumentar a produção das proteínas (b-defensina ou catelicidina) que promovem aumento da resposta da imunidade inata, proteção contra invasão bacteriana, melhora do reparo tecidual e ainda redução da inflamação (10). Estudos observacionais descreveram uma relação entre a deficiência de vitamina D e infeções de trato respiratório por influenza (11,12), podendo também haver relação com a infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2).
Até o momento não há consenso sobre a relação entre a carência de vitamina D e a COVID-19. O SARS-CoV-2 emergiu e começou a se espalhar pelo hemisfério norte no final de 2019 (inverno) quando os níveis de calcitriol estão em concentrações mais baixas nessa região. Um estudo mostrou que uma alta taxa de mortalidade em pacientes na Europa era associada à carência de vitamina D (13). Outro estudo apontou que pacientes negros na Inglaterra e Wales tem uma chance 4 vezes maior de morrer de COVID-19 do que outros indivíduos (14), existindo uma teoria que associa isso ao fato de ser mais comum a carência de vitamina D nessas populações (15-17). Entretanto, outro estudo não identificou correlação entre os baixos níveis de vitamina D e a infecção por SARS-CoV-2 (18). No Brasil, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (ABRASSO) publicaram uma nota destacando que nenhuma indicação para suplementação de vitamina D foi aprovada para outros efeitos além da saúde óssea (19). Apesar da falta de dados concretos, um grupo de pesquisa italiano propôs um protocolo nutricional para pacientes com COVID-19 com déficit da vitamina D (20). De forma similar, um estudo irlandês reforçou a ideia de que a suplementação adequada com a vitamina, principalmente em pacientes idosos, pode ser benéfica para redução da severidade e da mortalidade da doença (21). Idir e colaboradores apontam ainda que o controle de deficiências nutricionais através de uma promoção nutricional adequada, não apenas da Vitamina D, pode favorecer uma melhor resposta imunológica, sendo particularmente relevante na pandemia da COVID-19 (22)
No ClinicalTrials.com estão cadastrados 21 estudos clínicos intervencionistas para se avaliar o papel da suplementação de vitamina D na COVID-19 (23). Assim, a hipótese de que a vitamina D possa reduzir a incidência ou a gravidade da COVID-19 precisa ser logo respondida através de estudos randomizados e em larga-escala.
Referências Bibliográficas
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3. Bikle DD. Vitamin D metabolism, mechanism of action, and clinical applications. Chem Biol 2014 March 20;21(3):319e29. https://doi.org/10.1016/j.chembiol.2013. Epub 2014 Feb 13
4. Pilz S, Marz W, Cashman KD, Kiely ME, Whiting SJ, Holick MF, et al. Rationale and plan for vitamin D food fortification: a review and guidance paper. Front Endocrinol (Lausanne) 2018 Jul 17;9:373. https://doi.org/10.3389/fendo.2018.00373. eCollection 2018
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8. Carrillo-Cruz E, Montero I, Perez-Simon JA. Vitamin D: effect on haematopoiesis and immune system and clinical applications. Int J Mol Sci 2018 Sep 8;19(9). https://doi.org/10.3390/ijms19092663. pii: E2663.
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17. Taksler, G. B., Cutler, D. M., Giovannucci, E. & Keating, N. L. (2015) Vitamin D deficiency in minority populations, Accepted Article Public Health Nutr. 18, 379-91.
18. Hastie, C. E., Mackay, D. F., Ho, F., Celis-Morales, C. A., Katikireddi, S. V., Niedzwiedz, C. L., Jani, B. D., Welsh, P., Mair, F. S., Gray, S. R., O'Donnell, C. A., Gill, J. M., Sattar, N. & Pell, J. P. (2020) Vitamin D concentrations and COVID-19 infection in UK Biobank, Diabetes Metab Syndr. 14, 561-565.
19. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Nota de esclarecimento: Vitamina D e COVID-19. Rio de Janeiro: SBEM; 2020. Consultado em: 20/06/2020. Disponível em: https://www.endocrino.org.br/nota-de-esclarecimento-vitamina-d-e-covid-19/
20. Caccialanza, R.; Laviano, A.; Lobascio, F.; Montagna, E.; Bruno, R.; Ludovisi, S.; Corsico, A.G.; Di Sabatino, A.; Belliato, M.; Calvi, M.; et al. Early nutritional supplementation in non-critically ill patients hospitalized for the 2019 novel coronavirus disease (COVID-19): Rationale and feasibility of a shared pragmatic protocol. Nutrition 2020, 110835.
21. Laird E., Kenny R.A. 2020. Vitamin D deficiency in Ireland – implications for COVID 19. Results from the Irish Longitudinal Study on Ageing (TILDA).
22. Iddir M, Brito A, Dingeo G, Del Campo SSF, Samouda H, La Frano MR, Bohn T. Strengthening the Immune System and Reducing Inflammation and Oxidative Stress Through Diet and Nutrition: Considerations During the COVID-19 Crisis. Nutrients. 2020 May 27;12(6):E1562. doi: 10.3390/nu12061562.
23. Em ClinicalTrials.com consultado em 03/07/2020. Disponível em: https://clinicaltrials.gov/ct2/
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