Equipe Farmacologia Informa
Estima-se que 50 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de demência, principalmente devido à Doença de Alzheimer (DA) que é responsável por mais de 80% dos casos após os 65 anos de idade. A progressão da DA exerce um grande impacto sobre os pacientes, famílias e sociedade, e os custos globais com a doença são de aproximadamente US$ 1 trilhão por ano (1-3). A fim de contribuir para promoção e reabilitação da saúde dos pacientes, vários estudos vêm sendo realizados para melhoria do tratamento da DA.
A DA é um uma doença neurodegenerativa progressiva que se manifesta por deterioração cognitiva e da memória, levando à demência associada à DA. A longo prazo, pode afetar funções básicas como deglutir e respirar, resultando na incapacitação da pessoa. Os principais fatores de risco para DA são idade e histórico familiar da doença (3).
A DA caracteriza-se por alterações estruturais, como morte neuronal e acúmulo de placas de proteínas e, alterações de neurotransmissores, com baixos níveis de acetilcolina em algumas regiões do cérebro (3). Agregados anormais da proteína neuro-tóxica beta amiloide formam placas senis que desencadeiam uma cascata inflamatória e morte celular, o que parece ter papel importante no desenvolvimento e progressão da DA (4). Por outro lado, estudos post-mortem (após a morte) mostram que 30 a 40 % das pessoas na faixa dos 70 anos têm placas amiloides, porém sem alteração da função cognitiva (5).
De acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da DA do Ministério da Saúde, o tratamento tem como objetivo a estabilização da função cognitiva e do estado clínico geral do paciente, visando melhorar a qualidade de vida e manter a realização das atividades da vida diária, com um mínimo de efeitos adversos (3). Atualmente, no Brasil, estão aprovados os fármacos rivastigmina, galantamina e donepezila para o tratamento da DA leve a moderada, e a memantina para o tratamento da DA moderada a grave. Estes fármacos melhoram os sintomas cognitivos e funcionais e a qualidade de vida do paciente, mas não afetam a progressão da doença (3).
Nas últimas décadas, as pesquisas para o desenvolvimento de novos fármacos para o tratamento da DA têm como principal objetivo terapias que possam alterar o curso da doença. Neste contexto, as placas de proteínas beta amiloide são um alvo bastante estudado. Os fármacos em desenvolvimento com propriedades antiamiloide podem ser divididos em três categorias: aqueles que reduzem a formação da proteína beta amiloide, aqueles que reduzem a formação dos agregados proteicos e aqueles que aumentam a eliminação das placas amiloides (6).
Após dezoito anos, o FDA concedeu aprovação acelerada ao medicamento aducanumabe (Aduhelm), o qual foi desenvolvido para reduzir as placas de agregados de proteína beta amiloide. O aducanumabe é um anticorpo monoclonal antiamiloide que deve ser administrado por infusão intravenosa a cada 4 semanas. Foi aprovado para pacientes com comprometimento cognitivo leve devido à DA. O estudo clínico de fase 3 mostrou que o aducanumabe foi eficaz em reduzir as placas amiloides, porém não foi observada melhora clínica dos pacientes (7).
A aprovação do aducanumabe recebeu muitas críticas da comunidade científica, como: impacto incerto do aducanumabe sobre a progressão da DA e efeitos adversos significativos que podem comprometer a segurança no mundo real fora dos testes, como edema vasogênico e microhemorragias corticais (8). Além do custo do tratamento ser alto, é controverso pelo fato de uma parcela dos pacientes com DA leve e que foram diagnosticados clinicamente podem não apresentar placas amiloides (5,8,9).
Com a aprovação do aducanumabe pelo FDA e o surgimento de uma nova classe terapêutica para o tratamento da DA, espera-se que novas terapias mais eficazes para possam ser desenvolvidas.
GLOSSÁRIO
· Edema vasogênico: Trata-se de um edema cerebral decorrente de um extravasamento de água, eletrólitos e proteínas que aumentam o volume do encéfalo.
· Microhemorragias: São pequenas quantidades de sangramento no cérebro, visíveis apenas em exames de ressonância magnética. Elas ocorrem em um a cada três pacientes com AVC isquêmico e aumentam em até quatro vezes a probabilidade de hemorragias intracerebrais ou cerebrais.
REFERÊNCIAS
1. MURAKAMI, L; SCATTOLIN, F. Avaliação da independência funcional e da qualidade de vida de idosos institucionalizados. Revista Medica Herediana 21(1): 18-26, 2010.
2. LEVEY, AL. Progress with Treatments for Alzheimer”s Disease. New England Journal of Medicine 384: 1762-1763, 2021.
3. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria SAS/MS n. 13, de 28 de novembro de 2017. Aprova o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Doença de Alzheimer, 2017.
4. JAGUST, W. Imaging the evolution and pathophysiology of Alzheimer disease. Nature Reviews Neuroscience 19(11): 687-700, 2018.
5. RUBIN, R. Recently approved alzheimer drug raises questions that might never be answered. JAMA 326(6):469-472, 2021.
6. SANT’ANA, NJ et al. Terapia antiamiloide: uma nova estratégia para tratamento da doença de Alzheimer. Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica 16(2): 127-131, 2018.
7. WOODCOCK, J. American Geriatrics Society. Food and Drug Administration’s Review of Biogen’s drug Aducanumab for Alzheimer’s disease, 2021. Disponível em:
8. RABINOVICI, GD. Controversy and Progress in Alzheimer’s Disease — FDA Approval of Aducanumab. New England Journal of Medicine 385(9): 771-774, 2021.
9. ALEXANDER, G. C; KNOPMAN, DS.; EMERSON, SS.; OVBIAGELE, B; KRYSCIO, RJ.; PERLMUTTER, JS.; KESSELHEIM, AS. Revisiting FDA Approval of Aducanumab. New England Journal of Medicine 385(9): 769-771, 2021.
Comments