Equipe Farmacologia Informa
O SARS-CoV-2, novo coronavírus, é um vírus que utiliza uma enzima RNA polimerase dependente de RNA (RdRp) para a sua replicação, a qual é alvo de vários fármacos que estão sendo estudados para o tratamento da COVID-19.
O favipiravir é um antiviral oral de amplo espectro que inibe a RdRp e foi aprovado no Japão, em 2014, para tratamento de infecções por influenza, sendo comercializado pelo nome Avigan® (1).
Estudos com células mostraram que o favipiravir apresenta atividade contra o SARS-CoV-2 (2,3). Em maio de 2020, o favipiravir, registrado com o nome Avifavir®, foi aprovado na Rússia para o tratamento da COVID-19 com base em estudos clínicos realizados na Rússia e no Japão. De acordo com um comunicado publicado pelo Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) em seu site, um estudo observacional pós-registro com 940 pacientes tratados com o favipiravir mostrou que em 30% dos casos a eliminação viral foi mais rápida e o nível de saturação de oxigênio foi normalizado duas vezes mais rápido, quando comparado à terapia de padrão. O Avifavir® já foi distribuído para 74 regiões russas, Bolívia, Cazaquistão, Turcomenistão, Uzbequistão, Quirguistão e Bielorrúsia (4). O favipiravir também está sendo utilizado no tratamento da COVID-19 na Índia, Turquia e Arábia Saudita (5).
Em 21 de setembro de 2020, o RDIF anunciou que irá distribuir o Avifavir® para 17 países, incluindo o Brasil e outros países da América Latina (4). No entanto, o medicamento ainda não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
O uso do favipiravir foi sugerido em um algoritmo de tratamento da COVID-19 que envolve o uso precoce do favipiravir (6) e em um guia de prática clínica baseado em evidências desenvolvido na China (7).
Um dos primeiros estudos clínicos com o favipiravir, realizado na China, foi não randomizado e comparou a utilização de favipiravir + interferon alfa com lopinavir/ritonavir + interferon alfa. O grupo tratado com favipiravir apresentou eliminação viral mais rápida, além de melhora observada através da tomografia computadorizada do tórax e menos efeitos adversos (8).
Resultados de um estudo piloto randomizado aberto com 60 pacientes com pneumonia moderada por COVID-19, realizado na Rússia, indicaram eliminação do vírus após 4 dias de tratamento em 62,5% dos pacientes tratados com favipiravir. Todos os pacientes receberam também antibióticos, anticoagulantes e/ou imunossupressores (9).
Em 23 de setembro, a empresa Fujifilm Toyama Chemical Co. divulgou um informe com resultados de um estudo clínico randomizado controlado por placebo, simples cego, com 156 indivíduos sem pneumonia grave. O grupo tratado com Avigan® apresentou exame RT-PCR para o SARS-CoV-2 negativo em 11,9 dias, enquanto o grupo placebo em 14,7 dias (10).
Por outro lado, um estudo randomizado aberto com um pequeno grupo de pacientes com COVID-19 mostrou que o tratamento precoce com favipiravir não acelerou a eliminação do vírus, mas acelerou a resolução da febre (11). Uma revisão sistemática e meta-análise recente indicou que os pacientes que foram tratados com favipiravir, em comparação ao tratamento de suporte, apresentaram melhora clínica e radiológica. No entanto, sem diferença significativa na eliminação do vírus, necessidade de suporte de oxigênio e perfil de efeitos adversos (12).
Na plataforma clinicaltrials.gov, 29 estudos clínicos ativos com o favipiravir estão registrados (13). Estudos clínicos randomizados controlados, duplo cego, mais robustos são necessários para melhor definição da eficácia do favipiravir no tratamento da COVID-19.
Glossário:
Estudo controlado por placebo: o grupo placebo recebe um tratamento inerte, sem efeito.
Estudo duplo-cego: nem o paciente nem o profissional de saúde sabem qual tratamento está sendo utilizado por cada grupo.
Estudo simples-cego: o profissional de saúde sabe em qual grupo o paciente está, mas o paciente não sabe em qual grupo está.
Estudo randomizado: os indivíduos são distribuídos aleatoriamente entre os grupos do estudo clínico.
Meta-análise: análise estatística dos resultados de vários estudos independentes com o objetivo de integrá-los.
Favipinavit (foto: Reprodução)
Referências:
(1) Shiraki K, Daikoku T. Favipiravir, an anti-influenza drug against life-threatening RNA virus infections. Pharmacol Ther. 209:107512, 2020.
(2) Wang M et al. Remdesivir and chloroquine effectively inhibit the recently emerged novel coronavirus (2019-nCoV) in vitro. Cell Res. 30:269-271, 2020.
(3) Shannon A et al. Rapid incorporation of Favipiravir by the fast and permissive viral RNA polymerase complex results in SARS-CoV-2 lethal mutagenesis. Nat Commun. 11(1):4682, 2020.
(4) https://rdif.ru/Eng_fullNews/5826/ Acesso em 30/09/2020.
(5) Agrawal U et al. Favipiravir: A new and emerging antiviral option in COVID-19. Med J Armed Forces India. 2020. doi: 10.1016/j.mjafi.2020.08.004.
(6) McCullough PA et al. Pathophysiological Basis and Rationale for Early Outpatient Treatment of SARS-CoV-2 (COVID-19) Infection. Am J Med. S0002-9343(20)30673-2, 2020.
(7) Jin YH et al. Chemoprophylaxis, diagnosis, treatments, and discharge management of COVID-19: An evidence-based clinical practice guideline (updated version). Mil Med Res. 7(1):41, 2020.
(8) Cai Q et al. Experimental Treatment with Favipiravir for COVID-19: An Open-Label Control Study. Engineering (Beijing) doi:10.1016/j.eng.2020.03.007.
(9) Ivashchenko AA et al. AVIFAVIR for Treatment of Patients with Moderate COVID-19: Interim Results of a Phase II/III Multicenter Randomized Clinical Trial. Clin Infect Dis, 2020. doi: 10.1093/cid/ciaa1176.
(10) https://www.fujifilm.com/jp/en/news/hq/5451. Acesso em 30/09/2020.
(11) Doi H et al. A prospective, randomized, open-label trial of early versus late favipiravir in hospitalized patients with COVID-19. Antimicrob Agents Chemother. AAC.01897-20, 2020. doi: 10.1128/AAC.01897-20.
(12) Shrestha DB et al. Favipiravir versus other antiviral or standard of care for COVID-19 treatment: a rapid systematic review and meta-analysis. Virol J. 17(1):141, 2020.
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