Grupo Farmacologia Informa
Desde o início da pandemia de COVID-19, muitas mensagens sobre a utilização de medicamentos têm circulado nas redes socias e aplicativos de mensagens. Muitas delas foram sobre a utilização de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), principalmente o ibuprofeno, e o maior risco de infecção ou de agravamento da síndrome respiratória aguda grave causada pelo coronavírus 2 (SARS-CoV-2). Muitas dessas mensagens começaram após a postagem no Twitter do Ministro da Saúde Francês Olivier Véran afirmando que a utilização de AINEs poderia agravar a infecção por SARS-CoV-2. Essas postagens tiveram relação com um artigo científico que levantou a hipótese de maior risco da utilização de ibuprofeno e outros fármacos que aumentam a expressão da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2), uma vez que esta enzima é necessária para a entrada do vírus na célula humana e posterior replicação (1). A ECA2 está presente em vários órgãos como pulmão, intestino, rins, coração e nos vasos sanguíneos (2,3,4). No entanto, até o momento, não foi comprovado que algum AINE possa facilitar ou aumentar a infecção pelo SARS-CoV-2. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, em documento publicado em 19 de abril, não há evidências científicas que comprovem os efeitos adversos severos ou de agravamento do quadro clínico de pacientes com COVID-19 após a utilização de AINEs (5). A ANVISA divulgou um informe esclarecendo a falta de evidências científicas conclusivas sobre a utilização de ibuprofeno por pacientes com COVID-19, porém indicou que outros medicamentos são preferíveis para o tratamento da dor e febre, como o paracetamol e a dipirona (6). O Ministério da Saúde fez a mesma recomendação (7). O ibuprofeno, o paracetamol e a dipirona são medicamentos de venda livre, ou seja, estão disponíveis para venda nas farmácias e drogarias sem a necessidade de prescrição médica (8). Porém, devem ser utilizados de acordo com orientação médica e/ou farmacêutica e com as orientações disponíveis na bula. Pacientes que fazem uso contínuo do ibuprofeno não devem interromper o tratamento sem orientação médica. Contudo, nesse momento as informações mudam rapidamente, revisões regulares serão feitas e atualizadas de acordo com as evidencias disponíveis.
Referências 1. Fang L, Karakiulakis G, Roth M. Are Patients With Hypertension and Diabetes Mellitus at Increased Risk for COVID-19 Infection? Lancet Respir Med. 2020. 8(4):e21. doi: 10.1016/S2213-2600(20)30116-8. 2. Zhou P, Yang XL, Wang XG, Hu B, Zhang L, Zhang W, Si HR, Zhu Y, Li B, Huang CL, Chen HD, Chen J, Luo Y, Guo H, Jiang RD, Liu MQ, Chen Y, Shen XR, Wang X, Zheng XS, Zhao K, Chen QJ, Deng F, Liu LL, Yan B, Zhan FX, Wang YY, Xiao GF, Shi ZL. A pneumonia outbreak associated with a new coronavirus of probable bat origin. Nature. 2020. 579(7798):270-273. doi: 10.1038/s41586-020-2012-7. 3. Bavishi C, Maddox TM, Messerli FH. Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Infection and Renin Angiotensin System Blockers. JAMA Cardiol. 2020. doi: 10.1001/jamacardio.2020.1282. 4. Zhang H, Penninger JM, Li Y, Zhong N, Slutsky A. Angiotensin-converting enzyme 2 (ACE2) as a SARS-CoV-2 receptor: molecular mechanisms and potential therapeutic target. Intensive Care Med. 2020. 46:586–590. doi:10.1007/s00134-020-05985-9. 5. World Health Organization. The use of non-steroidal anti-inflammatory drugs (NSAIDs) in patients with COVID-19: Scientific brief. 19 April 2020. WHO/2019-nCoV/Sci_Brief/NSAIDs/2020.1. 6. ANVISA. Uso de ibuprofeno em pacientes com Covid-19: saiba mais. 24 de março de 2020. 7. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde – SCTIE. Diretrizes para diagnóstico e tratamento da COVID-19. Versão 3. 17 de abril de 2020. 8. ANVISA. http://portal.anvisa.gov.br/informacoes-gerais-mip. Acesso em 23 de abril de 2020.
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