Equipe Farmacologia Informa
Desde que a pandemia de COVID-19 surgiu em Wuhan, na China, com letalidade de 7% (1) houve uma verdadeira corrida científica em busca de um tratamento eficaz contra o novo coronavírus, SARS-CoV2.
Medicamentos antivirais estão sendo investigados em diversos estudos clínicos com pacientes diagnosticados com a COVID-19. Alguns desafios na utilização de medicamentos antivirais no tratamento da COVID-19 são utilização no início da infecção viral, o que é difícil já que a COVID-19 pode ser assintomática inicialmente; a possibilidade de efeitos limitados sobre doentes graves onde a fase inicial de alta replicação viral já passou e o possível desenvolvimento de resistência do vírus à esses fármacos (2).
O oseltamivir (Tamiflu®) é um antiviral inibidor de neuramidase (enzima presente na superfície viral que libera o vírus de uma célula hospedeira para infectar outras) que impede a proliferação viral no organismo do paciente (3). É aprovado para profilaxia e tratamento da infecção viral por influenza A e B (4). É um medicamento seguro que apresenta como efeitos adversos principais náuseas, dor de cabeça e vômito (2,3). Na China, o surto da COVID-19 ocorreu inicialmente em paralelo ao pico sazonal de infecção por influenza, desta forma o oseltamivir foi usado, empiricamente (baseado na observação, isto é, sem comprovação científica) por vários pacientes até a descoberta do SARS-CoV2 como causador da COVID-19 (5). Até o momento não existe comprovação científica de atividade do oseltamivir contra o SARS-CoV2 (6). No entanto, estudos clínicos foram iniciados na tentativa de avaliar sua eficácia na COVID-19.
Um estudo clínico retrospectivo com 138 pacientes em Wuhan não mostrou benefícios clínicos em relação aos pacientes hospitalizados que receberam oseltamivir, tanto na taxa de mortalidade quanto na melhora dos sintomas respiratórios (5). Um estudo de caso na Turquia mostrou que houve exacerbação da psoríase após tratamento com a associação de oseltamivir com hidroxicloroquina de uma paciente de 71 anos hospitalizada com COVID-19 (7).
Em relação aos estudos clínicos em andamento, um estudo chinês randomizado está avaliando três antivirais, entre eles o oseltamivir, em 400 pacientes com pneumonia por COVID-19 (8). O emprego da associação de dois ou mais antivirais está sendo avaliada na tentativa de potencializar o efeito antiviral contra o SARS-CoV-2. A associação de oseltamivir com cloroquina (CQ), lopinavir/ritonavir e favipiravir está sendo investigada em um estudo clínico randomizado com 320 pacientes hospitalizados, na China (9,10).
Até o presente momento, um total de quatro estudos clínicos investigando a eficácia do oseltamivir na COVID-19 está em andamento no mundo (11). No Brasil, não é recomendado utilizar oseltamivir no tratamento da COVID-19 em pacientes sem suspeita de infecção por Influenza devido ao baixo nível de evidência científica (12). Na suspeita de síndrome respiratória aguda grave ou de síndrome gripal, com fatores de risco para complicações e onde não se possa descartar o diagnóstico de influenza, é sugerido utilizar o tratamento empírico com oseltamivir. No entanto, esta recomendação foi classificada como fraca devido ao nível de evidência muito baixo (12).
Diante do exposto, as evidências científicas quanto à eficácia do oseltamivir na COVID-19, até o presente momento, limitam o seu uso.
Glossário
SÍNDROME GRIPAL (SG): indivíduo com quadro respiratório agudo, caracterizado por sensação febril ou febre, mesmo que relatada, acompanhada de tosse ou dor de garganta ou coriza ou dificuldade respiratória.
SÍNDROME RESPIRATÓRIA AGUDA GRAVE (SRAG):
Síndrome Gripal que apresente: dispneia/desconforto respiratório OU Pressão persistente no tórax OU saturação de O2 menor que 95% em ar ambiente OU coloração azulada dos lábios ou rosto.
Referências
1. Johns Hopkins University & Medicine. Coronavirus resource center. https://coronavirus.jhu.edu/. Acesso em 1.6.2020.
2. Renyi Wu et al. An Update on Current Therapeutic Drugs Treating COVID-19. Current Pharmacology Reports. 2020, doi.org/10.1007/s40495-020-00216-7.
3. McClellan K and Perry CM. Oseltamivir. Drugs. 2001;61(2):263–83.
4. Dobson J et al. Oseltamivir treatment for influenza in adults: a meta-analysis of randomised controlled trials. Lancet. 2015;385(9979):1729-1737.
5. Wang D et al. Clinical characteristics of 138 hospitalized patients with 2019 novel coronavirus–infected pneumonia in Wuhan, China. JAMA. 2020;323(11):1061–9.
6. Sanders JM et al. Pharmacologic treatments for coronavirus disease 2019 (COVID-19): a review. JAMA 2020; Apr 13. doi:10.1001/jama.2020.6019.
7. Ömer K et al. A case of exacerbation of psoriasis after oseltamivir and hydroxychloroquine in a patient with COVID-19: Will cases of psoriasis increase after COVID-19 pandemic? Dermathology terapy. 2020, DOI: 10.1111/dth.13383.
8. A Prospective/Retrospective, Randomized Controlled Clinical Study of Antiviral Therapy in the 2019-nCoV Pneumonia https://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT04255017
9. Rosa SGV and Santos WC. Clinical trials on drug repositioning for COVID-19 treatment. Rev Panam Salud Publica. 2020;44.
10. Various Combination of Protease Inhibitors, Oseltamivir, Favipiravir, and Hydroxychloroquine for Treatment of COVID-19 : A Randomized Control Trial (THDMS-COVID-19) https://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT04303299
11. https://clinicaltrials.gov/ Acesso em 02.06.2020
12. Consenso da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Diretrizes para o Tratamento Farmacológico da COVID-19. Maio 2020, Versão 1.
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