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Vacina contra COVID-19: como estamos?

Profª. Drª. Suzana Passos Chaves – Campus UFRJ-Macaé


Desde o início da pandemia da covid-19 o que mais se escuta é: quando vamos ter uma vacina? Afinal, todos queremos voltar às nossas atividades diárias sem receio. Neste artigo será relatado onde estamos até o presente momento na pesquisa e desenvolvimento de uma vacina anti-SARS-Cov-2.

Antes, é necessário que entendamos o que são vacinas e como é o processo de desenvolvimento de uma vacina. Vacinas são preparações contendo o micro-organismo (vírus, bactéria ou parasito inteiro ou parte dele) morto ou enfraquecido, que causa a doença que se quer combater, o que chamamos de antígeno vacinal. O racional da vacinação é fazer que nosso sistema imune entre em contato com o antígeno e desenvolva uma memória imunológica contra esse micro-organismo, para em caso de infecção real, nosso organismo já tenha defesa contra ele e não desenvolvamos a doença, ou caso desenvolvamos, que a doença seja mais branda (1).

O desenvolvimento de uma vacina nova começa com a escolha do antígeno vacinal. Então, esse antígeno, em uma fase de pesquisa laboratorial, tem sua eficácia e toxidez testadas em células (in vitro) e cobaias não humanas (in vivo). Em seguida inicia-se os testes em humanos, divididos em três etapas: (i) testes de Fase I do desenvolvimento, onde a segurança é o principal fator avaliado e é feito em um grupo pequeno de pessoas; (ii) teste de Fase II (maior número de pessoas), onde imunogenicidade e variação de dosagem são testadas, e (iii) teste de Fase III (milhares de pessoas) feito para avaliar eficácia e segurança do esquema vacinal proposto. A partir daí a vacina é submetida às Agências Reguladoras, e após obtenção da aprovação é disponibilizada para a população alvo. Mesmo após estar disponível no mercado a vacina ainda é monitorada por um longo tempo, para observação de eficácia e efeitos adversos (2). Todo esse processo leva anos para ser desenvolvido, como por exemplo, foram necessários 28 anos para obtenção da vacina da catapora e 15 anos para a obtenção da vacina contra o HPV (Papilomavírus Humano) (3). Em dados até 2016, a vacina que foi produzida e licenciada nos Estados Unidos mais rapidamente foi a vacina contra o sarampo, que levou 10 anos desde o descobrimento do agente causador da doença até a vacina estar disponível para uso (4).

Vários tipos de antígenos têm sido utilizados nas vacinas que estão sendo desenvolvidas contra a Covid-19; entre eles estão o vírus inteiro inativado (morto) ou atenuado (enfraquecido), vetores virais, ácido nucleico viral (DNA e RNA) e proteínas virais (1). Na última atualização do panorama de vacinas em teste divulgado pela Organização Mundial de Saúde existem 8 candidatas a vacinas em fase de avaliação clínica (testes de Fase I e II). Entre os antígenos vacinais utilizados nas mesmas temos: duas estão utilizando como antígeno vetor viral não replicante (CanSino Biological Inc./Beijing Institute of Biotechnology e Universidade de Oxford), duas estão utilizando RNA viral (Moderna/NIAID e Biotech/Fosun Pharma/Pfizer), três utilizam vírus inativado (Wuham Institute of Biological Products/Sinopharm, Beijing Institute of Biological Products/Sinopharm e Sinovac) e uma utiliza DNA viral (Inovio Pharmaceuticals) (5). Também existem 110 candidatas a vacinas em fase pré-clínica de avaliação, incluindo a vacina brasileira que está sendo desenvolvida pela equipe do Dr. Gustavo Cabral, no Incor – Universidade de São Paulo (USP) (5).

Mas a pergunta ainda é: quando essas vacinas estarão disponíveis? Devido a pandemia e a necessidade de obtenção de uma vacina de forma mais rápida, algumas etapas descritas acima (testes de Fase I, II e III) para o desenvolvimento vacinal estão sendo feitas em sobreposição, dando celeridade ao processo de desenvolvimento e em contrapartida, aumentando os riscos financeiros por parte dos investidores (6). Também existem iniciativas de ensaios com diferentes vacinas simultâneas, como a da Organização Mundial de Saúde, que convocou a R&D Blueprint (estratégia global para uma rápida ação de pesquisa e desenvolvimento durante epidemias (7)), e está propondo um teste randomizado internacional de vacina contra Covid-19, onde inúmeras candidatas poderão ser testadas ao mesmo tempo para sua segurança e eficácia (8).

Então, com todo o avanço da ciência e tecnologia, somado a urgência imposta pela pandemia e seriedade com que o assunto tem sido tratado, podemos crer que uma vacina contra a Covid-19 estará disponível mais rapidamente do que o tempo médio demonstrado pelos registros históricos das vacinas que temos hoje, mas para a nossa pergunta inicial, quando teremos uma vacina disponível?, a resposta é que não temos dados científicos suficientes para precisar uma prazo; o que sabemos é que estamos no direcionamento correto.


Referências bibliográficas

1. https://www.nature.com/articles/d41586-020-01221-y. Acessado em 16 de maio de 2020

2. Stern PL, Key Steps in Vaccine Development, Annals of Allergy, Asthma and Immunology (2020)

4. https://ourworldindata.org/vaccination. Acessado em 18 de maior de 2020.

6. Nicole Lurie, M.D., M.S.P.H., Melanie Saville, M.D., Richard Hatchett, M.D., and Jane Halton, A.O., P.S.M, The New England Journal of Medicine, Developing Covid-19 Vaccines at Pandemic Speed, 2020.

7. https://www.who.int/teams/blueprint/about. Acessado em 17 de maio de 2020.

8. An International randomised trial of candidates vaccines against COVID-19. WHO R&D Blueprint. 2020.

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