Prof. Dr. João Luiz Wanderley – Campus UFRJ-Macaé
Colaborador do Farmacologia Informa
Atualmente, não existe nenhum medicamento ou vacina que seja realmente efetiva contra o coronavírus 2 (SARS-Cov-2), vírus responsável pela COVID-19. Diversos medicamentos com atividade antimicrobiana estão sendo testados em diversos locais do mundo. Substâncias utilizadas para tratamento de outras infecções virais e parasitárias apresentam atividade contra o vírus em laboratório, mas ainda é necessário observar possíveis efeitos adversos, eficiência em pacientes, principalmente em casos mais graves da infecção (1). Nesse cenário terapias alternativas têm sido utilizadas, baseadas em conhecimento prévio sobre outras infecções. Uma dessas estratégias é a transfusão de plasma extraído de um doador recém curado (convalescente) da infecção pelo coronavírus (2). Este tipo de tratamento foi desenvolvido ainda no início do século passado e é eficiente contra doenças como gripe (vírus Influenza), síndromes hemorrágicas (vírus Ebola) e, inclusive, outras doenças causadas por coronavírus (3-5). No caso específico da covid-19, o tratamento depende da obtenção de plasma de um indivíduo que esteja enquadrado nos seguintes critérios: ter o diagnóstico confirmado; não ter sintomas da doença por pelo menos 28 dias ou ter teste negativo para o vírus na saliva e no sangue; não ter infecções transmissíveis pelo sangue (hepatite, HIV, etc.); não estar grávida e ter boas condições gerais de saúde (6). No entanto, um dos critérios mais importantes para ser doador de plasma é possuir anticorpos neutralizantes contra o coronavírus. Normalmente, quando sofremos com uma infecção, nosso sistema imune produz anticorpos contra o patógeno. Mas grande parte desses anticorpos só nos protegem quando são capazes de neutralizar o patógeno, ou seja, quando conseguem se ligar ao patógeno de forma a impedir que nossas células sejam infectadas ou sofram com toxinas produzidas por ele (7). Infelizmente, nem todos os pacientes são capazes de produzir anticorpos neutralizantes. Recentemente foram analisados 175 pacientes na China e 52 tinham baixas taxas de anticorpos neutralizantes, o que excluiria estes pacientes como doadores de plasma com fins terapêuticos (8). Por isso que é importante que o plasma só seja obtido de pacientes que tenham seu plasma testado quanto a presença e quantidade de anticorpos neutralizantes (6). Existem relatos mostrando que a transfusão de plasma é eficaz em pacientes graves, que apresentam pneumonia e baixa capacidade de oxigenação pulmonar, diminuindo dessa forma o tempo de hospitalização e a taxa de mortalidade (9-10). No Brasil, mais especificamente no Hemorio (Rio de Janeiro) e na Faculdade de Medicina da USP (São Paulo), já estão sendo feitas coletas de plasma de pacientes convalescentes para quantificar anticorpos neutralizantes (11-12). No entanto ainda não foi feito um estudo mais abrangente, incluindo pacientes com características mais variadas, assim como uma análise mais aprofundada de possíveis reações adversas como reações alérgicas e dano circulatório e pulmonar. Um estudo desse tipo está sendo realizado nos EUA, em uma iniciativa que conta com 950 médicos em diversos hospitais, com apoio do FDA (Food and Drug Administration) (13). Com esses resultados será possível fazer uma avaliação mais cuidadosa sobre a possibilidade dessa terapia ser uma opção viável para o tratamento definitivo para COVID-19.
Referências
1 - H. Lu, Drug treatment options for the 2019-new coronavirus (2019-nCoV). Biosci. Trends 14, 69–71 (2020).
2- Langhi DM, Santis GC, Bordin JO. COVID-19 convalescent plasma transfusion. Hematol Transfus Cell Ther. 2020 Apr 17.
3- van Griensven J, Edwards T, de Lamballerie X, et al; Ebola-Tx Consortium. Evaluation of convalescent plasma for Ebola virus disease in Guinea. N Engl J Med. 2016;374(1):33-42.
4- Zhou B, Zhong N, Guan Y. Treatment with convalescent plasma for influenza A (H5N1) infection. N Engl J Med. 2007;357(14):1450-1451.
5- Cheng Y, Wong R, Soo YO, et al. Use of convalescent plasma therapy in SARS patients in Hong Kong. Eur J Clin Microbiol Infect Dis. 2005;24 (1):44-46.
6- https://www.fda.gov/media/136798/download (acessado em 28/04/2020)
7- Zhou G, Zhao Q. Perspectives on therapeutic neutralizing antibodies against the Novel Coronavirus SARS-CoV-2. Int J Biol Sci. 2020;16(10):1718‐1723.
8- Fan Wu e cols. Neutralizing antibody responses to SARS-CoV-2 in a COVID-19 recovered 2 patient cohort and their implications. MedRxiv 2020.03.30 20047365.
9- Duan K, Liu B, Li C, et al. Effectiveness of convalescent plasma therapy in severe COVID-19 patients. Proc Natl Acad Sci U S A. 2020;117(17):9490‐9496
10- Shen C, Wang Z, Zhao F, et al. Treatment of 5 Critically Ill Patients With COVID-19 With Convalescent Plasma [published online ahead of print, 2020 Mar 27]. JAMA. 2020;e204783.
11- http://agencia.fapesp.br/brazilian-researchers-test-treatment-with-antibodies-from-patients-who-have-recovered-from-covid-19/32999/ (acessado em 28/04/2020).
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