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Vacina contra COVID-19: como estamos agora?

Profa. Dra. Suzana Passos Chaves – Campus UFRJ-Macaé


Lá se vão mais de 4 meses desde o início da pandemia da Covid-19 e o que ainda continuamos a escutar é: quando vamos ter uma vacina? Ou, a vacina ficará disponível ainda em 2020? Este artigo é continuação de outro escrito há cerca de dois meses (1), e conversaremos sobre os avanços que tivemos neste intervalo de tempo na pesquisa e desenvolvimento de uma vacina anti-Sars-Cov-2.

Inicialmente, vale a pena destacar o avanço sem precedentes da ciência durante esse período. No artigo anterior, o panorama de vacinas em teste divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e acessado em 17 de maio de 2020 era de 8 candidatas a vacinas em fase de avaliação clínica (testes de Fase I e II), e 110 candidatas a vacinas em fase pré-clínica de avaliação (17 de maio de 2020). Em um pouco mais de dois meses (28 de julho de 2020), o panorama atualizado apresenta 25 candidatas a vacina em fase de avaliação clínica, sendo 5 delas em Fase III de teste, e 139 candidatas a vacina em fase pré-clínica (2). Esse avanço exponencial pode ser explicado devido a capacidade tecnológica que temos disponível hoje em dia, a experiências anteriores com vírus correlatos ao Sars-Cov-2 e ao maciço investimento financeiro global nos estudos para Covid-19.

Das 5 vacinas em ensaios de Fase III (2, 3), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) já autorizou os testes de 3 delas no Brasil (4), e há relatos que uma quarta deve ser submetida para aprovação da agência em breve (5). Vale ressaltar que as colaborações feitas pelo Brasil para teste das vacinas incluem a transferência de tecnologia para nosso país, o que permitirá a produção nacional de doses. Abaixo, segue as vacinas que estão em fases de testes mais avançadas até o momento:

(i) a vacina da Universidade de Oxford em parceria com AstraZeneca, que está utilizando como antígeno vacinal vetor viral e já teve seu ensaio de Fase III autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (2,4). Essa vacina será testada em colaboração com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) (6);

(ii) vacina CoronaVac, produzida pela Sinovac utilizando vírus inativado, que foi aprovada para teste (4) em colaboração com o Instituto Butantan (7);

(iii) vacina BionTech / Fosun Pharma / Pfizer, utilizando como antígeno RNA mensageiro, e que também foi aprovada para teste em voluntários em SP e BA (4).

(iv) vacina do Wuhan Institute of Biological Products / Sinopharm, de vírus inativado, que o estado do Paraná está em negociação para testar no Brasil (5).

(v) e por fim, a vacina da Moderna / NIAID, de RNA mensageiro, que o Brasil está negociando prioridade de compra de doses (8).

Com essas informações sobre as vacinas mais promissoras em desenvolvimento, vale a pena conversarmos sobre alguns pontos interessantes no desenvolvimento das mesmas:

Inicialmente, podemos nos perguntar por que o Brasil foi um dos países escolhidos pelos pesquisadores/empresas desenvolvedoras para testar as vacinas. Isso de deve porque quanto maior a chance de os voluntários do ensaio terem contato com o vírus para o qual a vacina está sendo desenvolvida, maior as chances de obtenção de resultados mais robustos e mais rápido. Como nosso país ainda enfrenta um número expressivo de infecções, tornamo-nos um candidato viável para os testes sendo feitos (9).

E será que todas as vacinas sendo estudadas serão eficazes? Provavelmente não. As estatísticas apontam que cerca de 10% dos testes clínicos feitos são aprovados (10). Além da avaliação de segurança das vacinas, existe a possibilidade de as mesmas não desenvolverem uma resposta imunológica eficiente contra o vírus (como indução de anticorpos neutralizantes ou imunidade celular), não atendendo aos seus objetivos principais (11).

De acordo com o referido acima, mesmo com a probabilidade de entre as muitas vacinas sendo testadas poucas vacinas serem aprovadas, a aprovação da primeira vacina significa que as demais terão seus estudos interrompidos? De forma alguma. Quanto maior o número de vacinas eficazes, melhor, pois o número de doses necessárias para vacinar toda a população mundial em risco é muito maior que a capacidade de produção. Também, diferentes tecnologias e metodologias de desenvolvimento podem propiciar vacinas mais efetivas, que promovam melhor ou mais prolongada imunidade.

E depois que tivermos uma ou mais vacinas eficazes e aprovadas, finalmente poderemos retomar nossas vidas? Ainda não, porque aí vem uma nova etapa desse processo, que é a capacidade de produção e logística de distribuição das doses. Não podemos esquecer que o número de doses que será produzido inicialmente é inferior ao número de doses necessárias, como dito acima. Dessa forma, linhas de produção das indústrias devem ser reajustadas, deverá existir uma padronização de produção das vacinas para facilitar essa adequação e não podemos esquecer que além da vacina contra a Covid-19, ainda precisamos de todas as outras vacinas que já são produzidas para outras doenças infecciosas (9). Como não teremos vacinas suficientes para todas as pessoas, pelo menos inicialmente, grupos prioritários provavelmente serão definidos (12). Também, é necessário que haja um esforço mundial para ajudar os países menos favorecidos financeiramente na compra das doses, e proposição de alternativas para países que não têm condições adequadas de transporte e conservação das mesmas (13).

Então, finalizando novamente, com nossa pergunta inicial: como estamos agora sobre a vacina contra o coronavírus? Ainda em desenvolvimento. Temos como precisar uma data para que as vacinas sejam disponibilizadas para a população? Apesar dos desenvolvedores estarem fazendo previsões, não temos como afirmar uma data. É assim que a ciência funciona. Mas definitivamente estamos muito mais próximos do nosso objetivo, e ressaltando, em um intervalo de tempo nunca antes visto na produção vacinal.

Referências Bibliográficas

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1 Comment


Francisco Martins Teixeira
Francisco Martins Teixeira
Aug 01, 2020

Muito show o texto Suzana! Parabéns! Abordou todos os aspectos e o mais importante: adotou uma linguagem de fácil compreensão, para que a população consiga entender a necessidade de continuar seguindo as recomendações da OMS e dar crédito à ciência. Abraços!

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