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Remdesivir: novas informações e ampliação da utilização no tratamento da COVID-19

Equipe Farmacologia Informa

O antiviral remdesivir vem sendo considerado um fármaco promissor no tratamento da COVID-19. No início de maio, o uso emergencial do remdesivir para pacientes hospitalizados com a forma severa da COVID-19 foi autorizado nos EUA (1). Um documento guia redigido por profissionais de diferentes Instituições do País, e endossado pela Pediatric Infectious Diseases Society, indicou que o remdesivir é o antiviral de preferência para o tratamento de crianças com o quadro grave da doença, preferencialmente como parte de estudos clínicos (2). Logo em seguida, o remdesivir foi aprovado pelo Ministério da Saúde do Japão para o tratamento da COVID-19 (3).

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) recomendou a expansão do uso compassivo do remdesivir na Europa, incluindo pacientes hospitalizados com COVID-19 que não necessitam de ventilação mecânica invasiva (4). No Reino Unido, foi autorizado o uso limitado do remdesivir em pacientes com COVID-19 hospitalizados selecionados pelo Sistema Nacional de Saúde (NHS) (5).

A empresa Gilead Sciences, Inc., desenvolvedora do antiviral, abriu mão da licença de exclusividade e firmou um acordo com cinco indústrias farmacêuticas, produtoras de medicamentos genéricos, sediadas na Índia e no Paquistão. Estas cinco empresas poderão fabricar e distribuir o remdesivir em 127 países, facilitando assim o acesso ao medicamento. O Brasil não foi incluído neste acordo (6).

Para o tratamento de adultos e crianças (com mais de 40 kg) com COVID-19, o medicamento remdesivir é administrado em uma injeção intravenosa na dose de 200 mg no primeiro dia, seguida da administração de 100 mg por via intravenosa nos próximos 2 a 10 dias (7).

A avaliação do uso compassivo do remdesivir em 35 pacientes hospitalizados na Itália indicou benefício clínico com a utilização do fármaco. No entanto, efeitos adversos importantes foram observados, como toxicidade hepática e lesão renal aguda, o que levou à interrupção do tratamento por uma parte dos pacientes (8).

Os dados preliminares de 1059 pacientes incluídos em um estudo clínico multicêntrico randomizado, controlado por placebo e duplo-cego (Adaptive COVID-19 Treatment Trial, financiado pelo National Institute of Allergy and Infectious Diseases, EUA), mostraram que o grupo tratado por 10 dias com remdesivir apresentou menor tempo para recuperação (11 versus 15 dias) quando comparado ao grupo placebo. Este efeito foi observado principalmente nos pacientes com a forma severa da COVID-19. Os eventos adversos mais comuns no grupo tratado foram alterações hepáticas e renais, hiperglicemia e anemia. Porém, não houve diferença na incidência de efeitos adversos entre os dois grupos (9).

Um estudo randomizado multicêntrico envolvendo 397 pacientes hospitalizados com COVID-19 (forma severa, com redução dos níveis de oxigenação e sem necessidade de ventilação mecânica) comparou os efeitos do tratamento com remdesivir no estado clínico dos pacientes por 5 e 10 dias (first SIMPLE trial, Gilead Sciences, Inc.). Não foi observada diferença entre os dois tempos de tratamento. Entre os efeitos adversos mais comuns estava alteração de enzimas hepáticas, como também observado em outros estudos. Como não havia um grupo controle, a avaliação da eficácia do remdesivir neste estudo ficou comprometida (10). No dia primeiro de junho, a empresa Gilead Sciences, Inc. anunciou os resultados de outro estudo clínico multicêntrico randomizado (second SIMPLE trial) que também comparou os tempos de tratamento de 5 e 10 dias em pacientes com COVID-19 (forma moderada, sem redução dos níveis de oxigenação). Porém, neste estudo os grupos tratados foram comparados com grupos controles que receberam somente tratamento de suporte. De acordo com as informações publicadas pela empresa, o grupo tratado com remdesivir por 5 dias apresentou melhora clínica significativamente superior ao grupo controle (11).

Um total de 11 estudos clínicos estão registrados na plataforma clinicaltrials.gov para avaliar os efeitos do remdesivir em pacientes com COVID-19 (12).

Glossário

Uso compassivo de medicamentos: disponibilização de medicamento novo promissor, em processo de desenvolvimento clínico e ainda sem registro no órgão regulatório do país, destinado ao uso pessoal de pacientes não participantes de pesquisa clínica e com doença grave sem alternativa terapêutica satisfatória.

Estudo multicêntrico: estudo clínico conduzido seguindo um único protocolo, de forma concomitante em vários centros de pesquisa, nacionais e/ou internacionais.

Estudo randomizado: os pacientes são distribuídos aleatoriamente entre os grupos do estudo clínico.

Estudo controlado por placebo: o grupo placebo recebe um tratamento inerte, sem efeito. No caso do estudo citado no texto (9), foi usada solução salina. Os aparatos (bolsa de infusão, cateteres...) usados para administração do medicamento e do placebo são semelhantes para não permitir a identificação do tratamento.

Estudo duplo-cego: nem o paciente nem o profissional de saúde sabem qual tratamento (medicamento, dose) está sendo utilizado.



Referências Bibliográficas

2) Chiotos K et al. Multicenter initial guidance on use of antivirals for children with COVID-19/SARS-CoV-2. J Pediatric Infect Dis Soc. 2020; piaa045. doi: 10.1093/jpids/piaa045.

7) Jorgensen SC et al. Remdesivir: Review of Pharmacology, Pre-Clinical Data and Emerging Clinical Experience for COVID-19. Pharmacotherapy. 2020; doi: 10.1002/phar.2429.

8) Antironi S et al. Compassionate Remdesivir Treatment of Severe Covid-19 Pneumonia in Intensive Care Unit (ICU) and Non-ICU Patients: Clinical Outcome and Differences in Post-Treatment Hospitalisation Status. Pharmacol Res. 2020; 158:104899. doi: 10.1016/j.phrs.2020.104899.

9) Beigel JH et al. Remdesivir for the Treatment of Covid-19 - Preliminary Report. N Engl J Med. 2020; doi: 10.1056/NEJMoa2007764.

10) Goldman JD et al. Remdesivir for 5 or 10 Days in Patients with Severe Covid-19. N Engl J Med. 2020; doi: 10.1056/NEJMoa2015301.

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