No dia 1o de maio de 2020 a “U.S. Food and Drug Administration” (FDA) autorizou de forma emergencial a utilização do uso do antiviral remdesivir (GS-5734) em pacientes com a forma severa da COVID-19 (1). O remdesivir foi desenvolvido pela indústria farmacêutica americana Gilead Sciences Inc., a mesma criadora do oseltamivir (Tamiflu®) (2), e atua inibindo a síntese do material genético viral (RNA). A proposta inicial de indicação desse fármaco seria para tratamento de infeção causada pelo vírus ebola, porém um estudo clínico no Congo apontou uma eficácia menor em relação a outras substâncias (3).
Paralelamente foi confirmada a eficácia do remdesevir em estudos in vitro para outras famílias de vírus como Paramyxoviridae, Filoviridae e Coronaviridae (4, 5) e, ainda a eficácia em modelos animais de infeção por SARS-CoV e MERS-CoV (6-8). Esses achados fizeram o remdesivir ser incluído na lista de terapias a serem testadas nos estudos clínicos “Solidarity” lançado pela OMS (9) e no INSERM na Europa (10) para tratamento de COVID-19.
Um estudo clínico multicêntrico, randomizado, controlado por placebo (pacientes que só receberam tratamento de suporte), realizado na China entre fevereiro e março de 2020, mostrou que o tratamento com o remdesivir não resultou em redução do tempo para melhora clínica e da taxa de mortalidade dos pacientes com COVID-19. Os efeitos adversos mais comuns foram constipação, anemia e alterações hepáticas. O tratamento com remdesivir foi interrompido em 12 % dos pacientes devido a efeitos adversos. Um dos pontos fracos do estudo foi o número pequeno de pacientes (236), que gerou resultados inconclusivos em relação aos efeitos do remdesivir (11).
Em contrapartida, em dois estudos observacionais não controlados realizados em poucos pacientes com COVID-19, sendo um realizado na Alemanha (12) e outro em alguns países e financiado pela Gilead Sciences (13), apontaram uma melhora em 68% dos indivíduos. Porém, ambos os estudos não conseguiram demonstrar se o resultado foi um efeito direto do tratamento com remdesivir, pois não compararam com grupo controle e também comentam da necessidade de uma pesquisa randomizada e com maior número de participantes. Dados preliminares de um estudo clínico randomizado e controlado realizado pelo NIH (National Institute of Health, EUA), que envolveu 1.053 pacientes com COVID-19, mostrou que os pacientes que foram tratados com remdesivir tiveram um tempo de recuperação 31% mais rápido em relação ao grupo tratado com placebo (14, dados ainda não publicados).
Até o presente momento, sete estudos clínicos estão em andamento para avaliar a eficácia do remdesivir e mais três ainda para serem iniciados (15). No Brasil, a ANVISA (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária) está em contato com a Gilead Sciences para avaliar o interesse e viabilidade de fornecerem o medicamento, visto que não há nenhum pedido de registro no Brasil do medicamento. A ANVISA informou ainda que não há nenhuma solicitação de uso do medicamento no país (16). No dia 07 de Maio de 2020 o Ministério da Saúde do Japão autorizou o uso do remdesivir no país (17).
Referências
1. Coronavirus (COVID-19) Update: FDA Issues Emergency Use Authorization for Potential COVID-19 Treatment [Internet]. 2020. Disponível em: www.fda.gov Acesso em: 04/05/2020.
2. Lew W, Chen X, Kim CU. Discovery and development of GS 4104 (oseltamivir): an orally active influenza neuraminidase inhibitor. Curr Med Chem. 2000 Jun;7(6):663-72. Doi: 10.2174/0929867003374886.
3. Mulangu S et al. PALM Consortium Study Team. A Randomized, Controlled Trial of Ebola Virus Disease Therapeutics. N Engl J Med. 2019 Dec 12;381(24):2293-2303. doi: 10.1056/NEJMoa1910993.
4. Warren TK, el al. Therapeutic efficacy of the small molecule GS-5734 against Ebola virus in rhesus monkeys. Nature. 2016; 531(7594): 381–385. doi: 10.1038/nature17180
5. Lo MK et al. GS-5734 and its parent nucleoside analog inhibit Filo-, Pneumo-, and Paramyxoviruses. Sci Rep. 2017 Mar 6;7:43395. doi: 10.1038/srep43395.
6. Sheahan TP et al. Broad-spectrum antiviral GS-5734 inhibits both epidemic and zoonotic coronaviruses. Sci Transl Med. 2017 Jun 28;9(396):eaal3653. doi: 10.1126/scitranslmed.aal3653.
7. Agostini ML et al. Coronavirus Susceptibility to the Antiviral Remdesivir (GS-5734) Is Mediated by the Viral Polymerase and the Proofreading Exoribonuclease. mBio. 2018 Mar-Apr; 9(2): e00221-18. doi: 10.1128/mBio.00221-18
8. de Wit E et al. Prophylactic and therapeutic remdesivir (GS-5734) treatment in the rhesus macaque model of MERS-CoV infection. Proc Natl Acad Sci U S A. 2020 Mar 24; 117(12): 6771–6776. doi: 10.1073/pnas.1922083117
9. “Solidarity” clinical trial for COVID-19 treatments [Internet]. 2020. Disponível em: https://www.who.int/ Acesso em: 05/05/2020.
10. Lancement d’un essai clinique européen contre le Covid-19 [Internet] Disponível em: https://presse.inserm.fr/ Acesso em 05/05/2020.
11. Wang Y et al. Remdesivir in adults with severe COVID-19: a randomised, double-blind, placebo-controlled, multicentre trial. Lancet. 2020 Apr 29 doi: 10.1016/S0140-6736(20)31022-9
12. M. Augustin, M. Hallek, S. Nitschmann. Remdesivir bei Patienten mit schwerer COVID-19. Internist (Berl) 2020 Apr 24 : 1–2. German. doi: 10.1007/s00108-020-00800-5.
13. Grein J et al. Compassionate Use of Remdesivir for Patients with Severe Covid-19. N Engl J Med. 2020 Apr 10:NEJMoa2007016. doi: 10.1056/NEJMoa2007016.
14. NIH Clinical Trial Shows Remdesivir Accelerates Recovery from Advanced COVID-19 [Internet]. 2020 Disponível em: https://www.niaid.nih.gov/ Acesso em: 05/05/2020.
15. Clinicaltrials.gov [Internet]. 2020. Disponível em: https://clinicaltrials.gov/ Acesso em 05/05/2020.
16. Anvisa está em contato com fabricante do remdesivir [Internet]. 2020 Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/ Acesso em: 05/05/2020.
17. Gilead Announces Approval of Veklury® (remdesivir) in Japan for Patients With Severe COVID-19 [internet]. 2020 Disponível em: www.gilead.com. Acesso em:11/05/2020.
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